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Traduções ou resumos?

 
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Al_Tereg



Joined: 02 Mar 2009
Posts: 1327
Location: Faro

PostPosted: Sat Jun 06, 2009 5:18 pm    Post subject: Traduções ou resumos? Reply with quote

Como já aqui disse, acabei de ler a versão inglesa dos Cinco na Planície Misteriosa (Five Go to Mystery Moor), curiosamente um dos poucos casos da colecção em que o tradução do título é fiel. Como já foi aqui salientado por alguém, dada a pouca inspiração que a Enid Blyton revelava para os títulos, até ficámos nós, leitores portugueses, a ganhar. Mas a liberdade na tradução, no livro propriamente dito, deverá ter limites, digo eu.

Eu não estive a ler, lado a lado, a versão portuguesa e a inglesa, claro (nunca mais sairia dali), mas tive curiosidade de ir aqui e ali ver como a tradutora tinha dado a volta a algumas situações. Nomeadamente, fui à procura da tradução da famosa ginger-beer, que já alguém aqui disse que num livro das Gémeas, ou 4 Torres, não me lembro, tinha sido traduzido por licor de ginja (!). Na Aventura no Mar, da série aventura da Blyton, que li anteriormente em inglês, outra tradutora traduziu por cerveja. É curioso que quando li ambos os livros em criança nada disso me saltou à vista ou, pelo menos, não o guardei na memória. Talvez porque nessa altura não estivéssemos ainda condicionados pela correcção política e não nos chocasse ou nem nos apercebêssemos de que se tratava de bebidas alcoólicas. A Maria da Graça de Moctzuma, tradutora dos Cinco, foi neste particular muito mais politicamente correcta, por antecipação, e traduziu pela tão portuguesa laranjada. E, aqui, acho que esteve muito bem.

Aliás, num texto da sua autoria, publicado num volume comemorativo dos 100 anos da escritora, que me foi oferecido pelo Paulo (misterio), ela, que agora dá pelo nome de Maria da Graça Lobato Faria, refere "as 'liberdades'(...) cometidas, quando substituía com alguma leviandade(...), nomes de personagens, ementas de refeição, etc., no intuito de tornar mais fácil e atraente para as crianças portuguesas aquilo que liam." Até aqui tudo bem, aceita-se e até é de aplaudir a intenção.

O pior são coisas como os exemplos que apresento em seguida e que, garanto-vos, não são caso único ao longo do livro, se bem que, como disse, eu esteja longe de estar a fazer uma comparação exaustiva, isto foram apenas duas coisas que me saltaram à vista.

Exemplo 1 - Quando o Tim conhece a Lize, a cadelinha do ciganinho Fungão.
Eis o texto em inglês:
«Liz remained on her back, paws in the air, tongue hanging out, panting. She gave a very small, beseeching whine.
Timmy bent his head down and sniffed at her paws. Behind him his tail began to move a little - yes, it had a wag in it! He sniffed again. Liz leapt on to her four feet and pranced all round Timmy, yapping as if to say "Come on and play! Do come!"
And then suddenly Timmy fell upon the absurd little creature and pretended to worry it. Liz gave a delighted volley of yaps and rolled over and over. They had a marvellous game, and when it was all over, Timmy sank down panting for breath, in a sunny corner of the yard - and Liz settled herself between his front paws, as if she she had known him all her life!
When George came out of the stable...»


Para quem não se entenda com inglês, tomo eu a liberdade de apresentar uma tradução, obviamente amadora:
«A Liz ficou de costas, patas no ar, língua pendente, ofegante. Emitiu um pequenino queixume suplicante.
O Tim inclinou a cabeça e cheirou-lhe as patas. Atrás dele a sua cauda começou a mover-se ligeiramente - sim, estava a abanar! Cheirou novamente. A Liz saltou de novo sobre as quatro patas e cabriolou em redor do Tim, latindo como que a dizer "Anda brincar! Anda lá!"
E então, subitamente, o Tim caiu sobre a absurda criaturinha fingindo arreliá-la. Liz soltou uma torrente de latidos de satisfação e rebolou uma e outra vez. Divertiram-se imenso, e quando acabou, o Tim deixou-se cair recuperando o fôlego, num canto soalheiro do pátio - e a Liz anichou-se entre as suas patas dianteiras, como se o tivesse conhecido a vida inteira!
Quando a Zé saiu da cavalariça...»


Agora comparem com o texto da tradução portuguesa:
«Então a Lize deitou-se de costas, com as patas no ar e a língua de fora, ofegante. Depois ganiu parecendo chorar.
O Tim baixou a cabeça e cheirou-lhe as patas. A Lize deu um salto e começou aos pulos, à volta dele, como quem diz: - Anda brincar comigo"
Quando a Zé saiu da cavalariça...»

Não notam que faltam aqui algumas algumas coisas? Nomeadamente o segundo período do segundo parágrafo e o terceiro parágrafo inteiro, o que lhes aconteceu?! Shocked

Exemplo 2.
Texto original:
I was a lovely morning, and the banks and ditches they passed were bright gold with thousands of celandines.
"All beautifully polished" said Anne, picking two or three for her button-hole. It did look as if someone had polished the inside of each petal, for they gleamed like enamel.


Tradução minha:
Estava uma manhã encantadora e as bordas e valas do caminho brilhavam como ouro com milhares de celidónias.
"Todas primorosamente polidas" disse a Ana, apanhando duas ou três para pôr na lapela. Era como se alguém tivesse polido o interior de cada pétala, pois elas brilhavam como esmalte.


Tradução da edição portuguesa:
Estava uma manhã encantadora e a estrada por onde seguiam era ladeada por lindas flores.
A Ana colheu duas ou três para pôr na lapela.

A primeira frase tudo bem: tradução livre mas correcta. Não colocou o nome das flores, mas isso se calhar também pouco interessava a miúdos portugueses que mesmo que conhecessem os nomes de algumas flores seriam as das comuns dos campos portugueses e não dos ingleses. Além de que a minha busca por celandines tanto deu celidónia ou erva-andorinha, como ranúnculo. Precisaria do nome latino para desambiguar e, claramente, não faz sentido tanto perfeccionismo. Wink
Mas o que aconteceu à poesia do segundo parágrafo?! Confused


Há liberdades de tradução e liberdades de tradução, neste caso, eu pergunto-me se alguma vez terei lido um livro dos Cinco da Enid Blyton ou se lia apenas histórias da Enid Blyton resumidamente reescritas pela Maria da Graça Moctzuma... Confused
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Tim



Joined: 05 Jan 2007
Posts: 346

PostPosted: Sat Jun 13, 2009 11:27 am    Post subject: Reply with quote

A questão das traduções é ainda mais difícil de analisar, porque as próprias edições inglesas foram sendo alteradas ao longo dos tempos. Nos casos concretos acima exemplificados, resta saber se a tradutora terá tido acesso à mesma edição inglesa que o Al_Tereg.

Não tenho edições de anos diferentes de Os Cinco, mas tenho uma edição de 1975 e outra de 1988 de The Island of Adventure, e posso dar um pequeno exemplo de alterações efectuadas de uma edição para a outra.

Ed. de 1975:
Jack and Lucy-Ann saw a coloured man coming towards them. His skin was black, his teeth were very white, and he rolled his eyes in a peculiar way.

Ed. de 1988:
Jack and Lucy-Ann saw a strange man coming towards them. His skin was lined, his teeth were very white, and his eyes darted from side to side as he looked at them.

Até o nome desta personagem foi mudado de uma edição para a outra. Na de 1975 chamava-se Jo-Jo e na de 1988 passou a ser Joe !
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Al_Tereg



Joined: 02 Mar 2009
Posts: 1327
Location: Faro

PostPosted: Sat Jun 13, 2009 7:05 pm    Post subject: Reply with quote

Tim wrote:
A questão das traduções é ainda mais difícil de analisar, porque as próprias edições inglesas foram sendo alteradas ao longo dos tempos. Nos casos concretos acima exemplificados, resta saber se a tradutora terá tido acesso à mesma edição inglesa que o Al_Tereg.

Não tenho edições de anos diferentes de Os Cinco, mas tenho uma edição de 1975 e outra de 1988 de The Island of Adventure, e posso dar um pequeno exemplo de alterações efectuadas de uma edição para a outra.

Ed. de 1975:
Jack and Lucy-Ann saw a coloured man coming towards them. His skin was black, his teeth were very white, and he rolled his eyes in a peculiar way.

Ed. de 1988:
Jack and Lucy-Ann saw a strange man coming towards them. His skin was lined, his teeth were very white, and his eyes darted from side to side as he looked at them.

Até o nome desta personagem foi mudado de uma edição para a outra. Na de 1975 chamava-se Jo-Jo e na de 1988 passou a ser Joe !


Há coincidências extraordinárias! Eu estou a ler exactamente o "The Island of Adventure" e tinha escrito um texto em que abordo exactamente o mesmo assunto, dando como exemplo a mesma frase que escolheste! Very Happy Agora quando o ia enviar, porque eu tinha-o escrito em word pad primeiro, vejo aqui que abordaste o mesmo assunto. Apenas, como centrei o tema do post nas alterações politicamente correctas a que os livros da EB têm vindo a ser sujeitos, ia colocar num tópico à parte sobre, na secção Enid Blyton - A escritora.

Pensando bem, vou mesmo colocar esse meu texto na referida secção, uma vez que já não está directamente relacionado com os Cinco, mas serve de algum modo de resposta ao teu post.
O problema aqui são as edições revistas a posteriori para que os livros da Blyton fiquem politicamente correctos.

No caso dos Cinco na Planície Misteriosa, as citações em inglês que eu coloquei aqui são de uma edição de 1964, que não terá certamente qualquer diferença da original, uma vez que foi bem anterior ao aparecimento das Brigadas do Politicamente Correcto, e a tradução é também da edição portuguesa dos anos 60, pelo que foi feita certamente com base na versão original.
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Alguem



Joined: 11 Apr 2006
Posts: 2137
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PostPosted: Sun Jun 14, 2009 1:17 pm    Post subject: Reply with quote

Temos de ter em conta que originalmente foram livros destinados a pré-adolescentes. Em edições desse tipo, a tradutora sentir-se-ia mais à vontade para cortar tudo aquilo que lhe parecesse acessório e preservando ao mesmo tempo o lado mais aliciante de "aventura" dos livros em si.

Em relação a adaptações para tornar os livros mais conformes a uma pretensa ideia do politicamente correcto (pretensa, porque o que é hoje a forma "correcta" de pensar, daqui a umas dezenas de anos já o não é...), acho um disparate pegado, porque um livro espelha uma realidade pertencente a uma dada época.
Sendo assim, todas as manifestações artísticas teriam de ser constantemente repensadas e adaptadas... Rolling Eyes Enfim, um disparate...
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misterio
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Joined: 17 Oct 2005
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PostPosted: Mon Jun 15, 2009 2:37 pm    Post subject: Reply with quote

Segundo o que pude apurar os textos a serem enviados para tradução do detentor dos direitos de publicação para as editoras, nas décadas de 60 e 70, eram a partir dos textos originais escritos pela autora e não de versões actualizadas, o que acontece actualmente.
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Al_Tereg



Joined: 02 Mar 2009
Posts: 1327
Location: Faro

PostPosted: Mon Jun 15, 2009 2:56 pm    Post subject: Reply with quote

Alguém wrote:

Em relação a adaptações para tornar os livros mais conformes a uma pretensa ideia do politicamente correcto (pretensa, porque o que é hoje a forma "correcta" de pensar, daqui a umas dezenas de anos já o não é...),


É exactamente esse o ponto! É que as pessoas de cada época têm a tendência de achar que chegaram ao fim da História, que todos os que vieram antes deles eram ignorantes e que, eles sim, sabem mais, ignorando que dentro de umas décadas essas ideias estarão ultrapassadas e não necessariamente no sentido que eles julgariam. Quem pensa assim é claramente preconceituoso e o que mais me irrita é ver esta gente, sem noção de História nem de futuro, encher a boca a chamar preconceituosos aos outros.


Alguém wrote:
acho um disparate pegado, porque um livro espelha uma realidade pertencente a uma dada época.
Sendo assim, todas as manifestações artísticas teriam de ser constantemente repensadas e adaptadas...


É o pintar da parra sobre a pintura de Adão e Eva do grande mestre... Rolling Eyes
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