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A BLYTON desconhecida
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Post new topic   Reply to topic    Fórum Mistério Juvenil Forum Index -> ENID BLYTON - a escritora
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Staci Vaughn
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PostPosted: Sat Nov 18, 2006 6:28 pm    Post subject: A BLYTON desconhecida Reply with quote

Mansagem escrita por:
Daniel Ribeiro

Enid Blyton sofreu a longo da sua vida constantes ataques de uma critica literária invejosa do sucesso da autora.
As críticas mais ferozes prendiam-se com o uso limitado de vocabulário e a constante repetição de palavras e frases, em suma, acusavam-na de ser uma péssima escritora. Será que se esqueciam para quem se dirigiam os livros.
Outros acusavam-na de escrever sempre o mesmo livro, repetindo o enredo-chave até à exaustão, com poucas variantes, o que, não é de todo verdade, muito embora repita algumas ideias aqui e acolá.
A questão que importa equacionar é o sucesso da autora, lida por milhões de crianças, e mesmo por adultos.
Tendo lido os livros dos Sete, Cinco e a Colecção Mistério, (bem como os livros dos Colégios) na minha meninice, só uma vez durante a minha vida adulta repesquei um dos livros dos Cinco para ver se a magia ainda subsistia. Não terminei o livro. Conclui precipitadamente que os livros tinham de ser lido durante as idades para as quais foram escritos.
Recentemente, ao tentar ‘impingir’ os livros da Enid ao meu filho, que tem a desleal concorrência da PS2, entrei em sites como este e tomei consciência que havia outras colecções da Enid, das quais algumas apenas tinha ouvido falar (como a Colecção Aventura) e outras totalmente desconhecidas (como a Barney R Mysteries).
Graças à aldeia global obtive estas duas colecções na versão original, já que a idade actual me permite ler o que a autora realmente escreveu.
Fiquei surpreendido ao ler os novos livros com o mesmo prazer que li os outros quando andava no ciclo preparatório no início da década de 70.
É evidente que o sentido critico está muito mais apurado e os imensos erros da autora imediatamente captados quando antes eram ignorados.
Contudo a capacidade de Enid de nos fazer sonhar é inigualável. Tal como me prendia em casa o dia todo até saber como o livro acabava, ainda hoje não descanso enquanto não o termino.
Surpresa agradável foi descobrir que os Cinco não são o supremo da autora, apesar de ser a colecção mais conhecida, com honras de duas séries televisivas, o que, se excluirmos o Noddy, nunca se repetiu nas demais séries.
Ainda não li a Secret Series nem os Adventurous Four, mas a Aventure Series (já li os 8 livros) e a Barney Mysteries Series(estou a ler o quarto dos 6 livros) estão ao mesmo nível dos melhores livros dos Famous Five e dos Five Find-Outers, e globalmente são melhores, porque aproveitam o que há de melhor do mundo Blyton num nº mais reduzido de livros.
Que agradável surpresa redescobrir a Blyton.
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Staci Vaughn
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PostPosted: Sun Nov 19, 2006 7:49 pm    Post subject: Reply with quote

Mansagem escrita por:
Daniel Ribeiro

Como disse na mensagem anterior a desvantagem de ler os livros da Enid Blyton em adulto é identificar certos erros, bem como certos truques que a autora usa, e por vezes abusa.

Um dos truques que a Enid mais usa é deveras irritante. Trata-se da forma como ela elimina os adultos do enredo, quer no início dos livros, como justificação para uma viagem para qualquer sitio recôndito, quer durante a acção, permitindo a que as crianças tenham mais liberdade para agir.

O método é sempre o mesmo, uma viagem ou uma doença qualquer.

Este estratagema é exclusivamente usado nas séries de aventura (Cinco, Aventura, Barney) sendo praticamente omisso nos Sete, ou nos Descobridores, dado que ambas as séries, de natureza ‘detectivesca’, decorrem num espaço geográfico limitado, pelo que a acção dos adultos por norma não interfere na acção dos miúdos.

Nos 21 livros dos Cinco tal estratagema aparece em pelo menos 13, ou seja, em 62% dos livros. Vejamos:
N.º 1 – Os 3 irmãos não vão para Polseath nas férias de Verão, porque os pais decidiram ir sozinhos para a Escócia e por isso os filhos serão recambiados para Kirrin, junto de uns tios que eles praticamente não conhecem
N.º 2 – A Ana recebe na escola, uma carta do pai, dizendo que os filhos não podem ir para casa porque a mãe tem escarlatina e ele está de quarentena, pelo que tem de passar as férias do Natal em Kirrin
N.º 3 – Para os Sticks entrarem em cena cabe a vez da doença cair sobre a criada. Contudo, como os pais ainda permaneciam na casa, lá se arranjou uma doença súbita à tia Clara de modo a que, mãe e pai tenham de ir para o hospital
N.º 4 – Neste há uma leve variante; para empurrar os cinco para fora de casa nada melhor do que espetar-lhes uma árvore em cima.
N.º 8 – O tio Alberto tem de ir a uma conferência e a tia vai com ele e mais uma vez a criada adoece no período de férias
N.º 9 – O pais da Zé decidiram ir de férias para Espanha. A criada desta vez escapou a mais uma doençazita.
N.º 11 – A doença abateu-se desta vez sobre a Zé
N.º 14 – Este é talvez uma das mais estranhas ausências dos pais da Zé, dado que estavam a tomar conta de uma menina sobre a qual havia ameaça de rapto
N.º 15 – Até o cão não escapa às enfermidades, cortando-se no pescoço, tendo de usar um cartão e sendo objecto de risota na aldeia o que irritou a Zé, levando-os a acampar por perto
N.º 17 – Este é o clássico dos clássicos, dado que aparece em todas as séries: os 4 estão doentes no fim das férias e em vez de regressar à escola vão para zonas mais tonificantes, neste caso para as Montanhas da Gales.
N.º 19 – Segunda variante das viagens e doenças. Em vez dos adultos sairem, há chegada de visitantes, logo há que empurrar os miúdos pela porta fora.
N.º 20 – Este é o expoente do cliché doença. A Srª Layman tem de ir tratar de uma prima doente e pede aos Cinco para tomar conta do seu sobrinho que não pode ir para casa dele uma vez que a sua mãe está com sarampo.
N.º 21 – A criada está com escarlatina e os pais de quarentena, logo os Cinco tem de procurar outras paragens.

(continua)
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Staci Vaughn
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PostPosted: Sun Nov 19, 2006 7:56 pm    Post subject: Reply with quote

Mansagem escrita por:
Daniel Ribeiro

(continuação)

Na série Aventura a percentagem é a mesma: 62,5% (em 5 dos 8 livros há o afastamento dos adultos), mas aqui há alguma variantes

N.º 4 – o sarampo arruinou as férias dos miúdos e em vez de regressar à escola, vão de férias – o regresso do clássico
N.º 5 – a tia Allie partiu um dedo da mão numa parte e fica em casa com o Bill como companhia, deixando os miúdos ao cuidado de um guia medroso, que à mera visão de um indivíduo preto foge, deixando os quatro miúdos sozinhos
N.º 6 – uma tia (ou irmã) doente é suficiente para a mãe dos pequenos abandonar o cruzeiro que estavam a fazer
N.º 7 – o casal é amordaçado e atada e fica fora jogada
N.º 8 – o casal é preso numa casa e fica o assunto resolvido

Nos Barney Mysteries atinge-se o máximo do uso da doença, com 83%. Apenas o nº 5 parece não ter sido atingido pela epidemia.

N.º 1 – Os pais tem de ir para a América e era suposto os miúdos ir para casa de uma tia que apanha sarampo e portanto lá vão eles com uma governanta para Rockingdown
N.º 2 – Para dar protagonismo ao mais novo dos miúdos numa aventura nocturna todos os restantes comem umas salsichas estragadas e adoecem por um dia
N.º 3 – Os miúdos estão a recuperar de gripe (lá regressa o clássico) no fim das férias da Páscoa e em vez de regressar à escola, lá vão eles convalescer para Ring O Bells
N.º 4 – Os pais tem de ir para a América e lá vão eles com uma governanta para Rubadub
N.º 6 – O pai tem de ir para América, mas desta vez a mãe fica, mas não por muito tempo já que durante a viagem de carro recebe uma mensagem de rádio dizendo que tem uma irmã seriamente doente.
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Staci Vaughn
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PostPosted: Sun Nov 19, 2006 8:28 pm    Post subject: Reply with quote

Mansagem escrita por:
Daniel Ribeiro

Reflexões sobre as duas mensagens anteriores

Porque será que a autora abusou deste recurso para se ver livre dos adultos nas histórias de crianças?

Pertencendo estas crianças a razoáveis meios sócio-económicos, não seria admissível admitir simplesmente que as crianças nas férias iam para um lugar qualquer, em vez de ficarem em casa, e que os pais os não podiam acompanhar, pelo simples e verdadeiro motivo que necessitavam de trabalhar (naquele tempo apenas o pai) e que, ao contrário dos filhos, não possuíam 4 ou 5 meses de férias por ano.

O que me intriga mais é o uso repetitivo da doença no fim das férias e da viagem em tempo de aulas. Porque é que não poderiam ter tido as mesmas aventuras durante o período de férias?

Igualmente incompreensível é como os adultos se afastam “da cena do crime” por motivos pueris como um dedo da mão partido reter não só quem o partiu como o parceiro ou havendo ameaça de rapto os adultos abandonarem a casa.

Gostaria de obter os vossos comentários sobre este assunto.
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misterio
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PostPosted: Mon Nov 20, 2006 5:39 am    Post subject: Reply with quote

Li com muita atenção os seus posts anteriores e que achei bastante interessante, apenas uma pequena critica à sua critica.
Imagine-se com 8 ou 10 anos e mesmo com 12, que foi quando comecei a ler as histórias dos Sete, como criança eu não tinha a mínima percepção dessas opções da autora, o que me interessava era ler uma aventura onde tivesse os maus da fita, cavernas, saídas à noite com lanternas, passagens secretas e tudo mais. Agora nem me ocorria que aquele ou o outro parente estivesse doente, simplesmente porque era criança e não tinha uma critica acerca do livro como tenho ou o amigo tem agora em adulto. O que na realidade me irritava um pouco em algumas histórias, como na colecção dos Sete, é que as crianças estavam constantemente a comer e por vezes a acção era quebrada porque eram chamados para a refeição.
Conclusão, não se esqueça que está a fazer uma critica no ponto de vista de adulto e se Blyton escrevia essencialmente para Crianças, esses pormenores eram de pouca importância.
Ainda hoje leio e estou a terminar de ler a colecção dos 5 Descobridores, e quando pego num livro juvenil, já sei que tenho de me abstrair de algumas infantilidades lógicas dos autores.
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Staci Vaughn
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PostPosted: Mon Nov 20, 2006 10:17 pm    Post subject: Reply with quote

Mansagem escrita por:
Daniel Ribeiro

Eu sei que é necessário um nível de abstração para reler hoje estes livros de modo a não ficar subjugado à lógica do raciocício adulto.
Orgulho-me de o ter parcialmente conseguido, ao ler com bastante prazer toda a colecção Aventura e mais de metade do Barney R Mysteries, depois de uma tentativa falhada para reler os Cinco à cerca de 10 anos atrás.
Se reparar bem, a minha critica não é aos livros em si, dado que se fosse esse o objectivo, teria amplo campo no múltiplo conjunto de inconsistências que lá existem.
O que procurava discutir era os motivos subjacentes à autora para utilizar tais expedientes, inevitavelmente rebuscados, quando podia utilizar recursos mais simples.
É certo que temos de nos transportar para uma época distante, inserirmos numa sociedade diferente e indagar se faz ou não sentido optar por recorrer a uma doença de uma tia para afastar um adulto de cena, em vez de simplesmente decidir mandar os heróis para um sitio qualquer sem o envolvimento dos adultos.
É o que acontece, por exemplo, com os Cinco e o Circo, na Quinta Finiston, na Quinta da Bela Vista, na aventura dos Aviadores e outros.
Provavelmente até faz. O repto era precisamente esse.
WHY?
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Alguem



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PostPosted: Tue Nov 21, 2006 8:33 pm    Post subject: Reply with quote

Bem-vindo ao forum, DBR.

Gostei de ler os seus posts e de apreciar a sua perspectiva sobre os livros de Enid Blyton. Permita-me apenas que faça um breve comentário/crítica a eles.

É verdade, como pode comprovar pelo que vários membros aqui escreveram, que há inconsistências nos livros, mesmo no que toca à sequência cronológica das idades das personagens. Isso terá muito a ver, suponho eu, com o ritmo alucinante de escrita da Enid, por vezes com vários volumes de diferentes séries a serem escritos com pouco tempo de intervalo. Pressões por parte dos editores, o próprio método de trabalho, o crescente sucesso das suas obras com o inevitável aumento do número dos seus leitores? Não sei, e talvez o Mistério possa esclarecer melhor este ponto, mas o que é certo é que o público-alvo (juvenil) parece que nunca se queixou, e a "fórmula" encontrada por Enid resultou no sentido de criar "viciados" nos seus livros, devorando-os até final, para ver como terminava esta aventura ou como era desvendado aquele mistério.

Também se tem de contextualizar os livros, como muito bem referiu. Repare que a 1ª geração de leitores eram crianças que viveram durante a guerra ou no pós-guerra (com relatos permanentes de outros conflitos que assolaram as suas famílias pelo menos desde o início do século: guerra anglo-boer, 1ª G.M....). Como sabe, tempos muito difíceis na Europa, em plena crise económica ou a recuperar dolorosamente dela... As mazelas emocionais nestas crianças também foram enormes, com famílias estraçalhadas, familiares desaparecidos (com a impossibilidade terrível de nem sequer haver lugar ao luto por elas) ou incapacitados...

Daí que Enid talvez quisesse construir a todo custo ambientes de sonho para as crianças (qual é o miúdo que não se revê nestes livros, longe duma tutela adulta, envolvendo-se nas inverosímeis situações retratadas naquelas aventuras?), mesmo insistindo em tramas semelhantes e com uma linguagem simplificada e estereotipada.

Em relação ao "despachar" dos adultos, isso só acontece nas séries principais de aventura/mistério (com a importante excepção do Jaime/Bill Smugs). No entanto, em livros isolados, de temática familiar (que, pelo que o DBR disse, julgo que não terá lido), há interacções bem interessantes entre todos os elementos que a compoem. Vale a pena também investir nestes outros livros dela - alguns deles são muito bons, quase como os Rolls-Royces e Bentleys escondidos na multidão de carros banais, que são as séries maiores Smile . Não sei o que é que o Mistério pensa acerca disto - concorda com os Rolls ou não? Smile

(Continua)
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Alguem



Joined: 11 Apr 2006
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PostPosted: Tue Nov 21, 2006 10:10 pm    Post subject: Reply with quote

(Continuação)

Relativamente ao estratagema repetitivo das doenças e consequente viagem, lembro-me de pensar que seria bem bom se os meus pais pensassem dessa forma. Mas, não sei porquê, nunca tive essa surpresa... Smile

Acho que nessa altura - anos 40, 50 - antes, portanto, da massificação do turismo, a ida para a praia ou montanha era sobretudo de natureza terapêutica: os anti-bacterianos existentes eram as sulfamidas, as penicilinas davam os primeiros passos, e assim a praia ou a montanha consistiam em escolhas privilegiadas, por causa dos seus "bons ares". Não vai tão longe o tempo em que as famílias portuguesas endinheiradas iam "a banhos", aproveitar o "iodo" das praias.


Para terminar, deixo aqui as minhas séries preferidas - Aventura, Cinco Descobridores, Mistério (Chico e seus companheiros). Isto, claro, para além de vários livros isolados (NÃO Alexandra, não vou falar outra vez disso... Wink )
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Staci Vaughn
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PostPosted: Tue Nov 21, 2006 10:43 pm    Post subject: Reply with quote

Mansagem escrita por:
Daniel Ribeiro

De facto não li nenhum desses Rolls Royce, pelo menos que me lembre.
Recordo-me perfeitamente do meu primeiro livro: Os Cinco Voltam à Ilha. Foi paixão imediata, que me conduziu à leitura da colecção completa. Coleccionei os livros dos Sete e dos Cinco e li as Colecções Mistério, 4 Torres e Santa Clara recorrendo à biblioteca que existia no andar de cima do edifício da Junta de Freguesia, que eu visitava todos os Domingos de manhã e que permitia trazer até 3 livros por semana para casa.
Tenho ideia de ler um ou outro livro solto da Enid Blyton (Os Seis Primos, foi um deles) mas estas 5 colecções foram as que li e em muitos casos reli, retendo por isso na minha memória.
Muitos anos mais tarde, em Inglaterra, visitei por acaso uma livraria e vi a colecção dos Sete com as capas e ilustrações originais e comprei-a (ainda está por ler).
A minha irmã, igualmente fã incondicional da EB, a quem eu viciei, por ser 4 anos mais nova, referiu-me ter visto os livros originais num alfarrabista do Porto a preços inacreditáveis. Fui imediatamente lá e comprei todas as colecções dos Sete, Mistério, Colégio das 4 Torres e dos Cinco (repondo assim os meus 21 velhos livros, já quase desfeitos, que ainda estão em casa do meu pai). A colecção do Colégio de Santa Clara comprei-a mais tarde numa edição do Circulo de Leitores, com as ilustrações originais e capa dura. Tinha assim reposto na minha biblioteca os livros da minha infância.
Apesar destas aquisições, só por uma ou duas vezes tentei reler os livros, sem grande sucesso.
Recentemente, ao tentar que o meu filho, com 8 anos, tentasse ler os Sete e aos 9 os Cinco, recuperei o interesse nos livros e importei directamente de Inglaterra, via intranet, várias colecções que nunca tinha lido, bem como a colecção Mistério, dado que, agora, prefiro ler os livros nas versões originais.
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Alguem



Joined: 11 Apr 2006
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PostPosted: Wed Nov 22, 2006 10:31 am    Post subject: Reply with quote

Se costuma frequentar os sites internacionais (forum da EBS, etc.) reparou certamente que um motivo de discussão recorrente, no que toca às recentes edições inglesas, é a depuração que os editores fazem dos seus textos, alinhando numa óptica do "politicamente correcto", quase chegando a desvirtuar certas passagens do texto original. Como sabe, a Enid chegou a ser apelidada de racista, sexista, e várias outras acusações, isto para além das que já referiu a propósito do seu talento como escritora (apesar disto tudo as crianças de inúmeras nacionalidades e culturas diferentes sempre a adoraram. Como se vincasse esse facto, ela teria dito uma vez que críticas de alguém com mais de 12 anos não eram de valorizar realmente...).

A minha pergunta é: é de facto aparente alguma "suavização" no texto inglês, no sentido de evitar expressões ou situações potencialmente "incómodas" nos dias de hoje (p. ex. "negro" em vez de "preto", etc.)?
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Staci Vaughn
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PostPosted: Wed Nov 22, 2006 10:12 pm    Post subject: Reply with quote

Mansagem escrita por:
Daniel Ribeiro

Como estou a ler pela primeira vez as colecções Aventura e Barney (o Chico na versão portuguesa que nunca conheci) não tenho a percepção do que foi alterado, apesar de já ter sido alertado para isso em diversos sites.
Quanto ao politicamente correcto acho que é um absurdo. É completamente ridículo que na capa de um disco dos Beatles, por ex., um cigarro nas mãos de um dos músicos tenha sido eliminado digitalmente.
Quanto aos livros que tenho lido da EB, pelo menos nesse capítulo, os adultos continuam a fumar.
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Alguem



Joined: 11 Apr 2006
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PostPosted: Thu Nov 23, 2006 10:41 am    Post subject: Reply with quote

DBR wrote:
Quanto aos livros que tenho lido da EB, pelo menos nesse capítulo, os adultos continuam a fumar.


Percebo, DBR. Aliás, a minha pergunta foi mal formulada. Seria difícil tentar detectar modificações nos textos, desconhecendo-se as versões anteriores originais. Interessava-me mais a sua perspectiva sobre a "brigada do P.C." mas já vi que coincide com a minha.

Relativamente aos adultos que fumam na EB, lembro-me que num livro dos Cinco, a Ana compra uma embalagem de tabaco para cachimbo para o velho Jeremias Boogle. Pois bem, a "brigada do P.C.", em edições posteriores (isto na versão original, pois não sei se em recentes edições portuguesas terá acontecido o mesmo...), achou que era mais apropriado pôr a Ana a comprar uma.... caixa de chocolates (!!!) para o velho marinheiro. Concordo que num livro escrito actualmente, a imagem de uma miúda a comprar tabaco não passava, por ser altamente improvável. Mas santa paciência, estamos a falar de um livro escrito em meados do séc. XX !!!!

Sendo assim quantas modificações se tinham de fazer, p. ex., nos autores do séc. XIX...
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misterio
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PostPosted: Thu Nov 23, 2006 3:54 pm    Post subject: Reply with quote

Infelizmente o meu tempo não é muito para poder responder e comentar os posts, mas prometo no fim de semana fazê-lo.
Não sei se sabem mas a Chorion está a produzir uma nova série dos Cinco, onde irá modernizar as histórias com a tecnologia e hábitos actuais. Um movimento criado pela Vivianne da Ginger Pop (www.gingerpop.co.uk) está a tentar impugnar tal atitude.
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Staci Vaughn
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PostPosted: Thu Nov 23, 2006 10:35 pm    Post subject: Reply with quote

Quote:
Quanto aos livros que tenho lido da EB, pelo menos nesse capítulo, os adultos continuam a fumar.


Isto apesar de não ser fumador e entender que fumar é errado.
Todavia, qualquer obra deve ser imutável, deve retratar a época em que foi elaborada, sendo testemunha de um tempo passado.
O que seria se alguem resolvesse:
Colorir o quadro Guernica de Picasso.
Acresentar uma batida rap nos albums de Bob Dylan.
Completar os braços da Venus de Milo.
Colocar computadores e telemóveis nas obras de Shakespeare.
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misterio
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Joined: 17 Oct 2005
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PostPosted: Fri Nov 24, 2006 4:31 am    Post subject: Reply with quote

Temos o exemplo das Aventuras de Tom Sawyer, em que huck dá umas fumaças num cachimbo entre outras coisas. Nas edições actuais a história continua igual, não houve qualquer tipo de adaptação para os dias de hoje.
Quanto aos Rolls de Blyton, sem dúvida muitos livros soltos dela são pouco conhecidos por cá e outros que nunca foram traduzidos, se for o contemplado com o Euromilhões podem acreditar que toda essa obra seria lançada por cá. Temos o exemplo dos "Seis Terríveis" que teve edição em Portugal, ao contrário do "Three Boys and a Circus", que quando foi editado, era assinado por Mary Pollock, pseudónimo, entre aspas, de Blyton, Mary é o seu nome; Enid MARY Blyton e Pollock era o nome do seu marido Hugh Pollock.
Blyton também escreveu para adultos, chegou a editar, segundo o meu conhecimento, um livro para professores "Stories and Notes to Enid BLyton Nature Plates" o livro era acompanhado, em anexo, por 50 grandes ilustrações coloridas desenhadas por Eileen Soper. Possuo este livro mas só tenho 5 dessas ilustrações.


Last edited by misterio on Sun Nov 26, 2006 1:09 am; edited 1 time in total
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Strawberryzinha



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PostPosted: Fri Nov 24, 2006 1:59 pm    Post subject: Reply with quote

Concordo plenamente, com quem diz que as obras devem permanecer fieis aos originais.
As histórias foram criadas numa determinada época, e devem manter-se fieis a ela.
Temo exemplos portugueses de adaptação que são rediculos, como a série dos livros Uma Aventura, em que se introduzem telemoveis etc. Claro que a série é feita num tempo completamente diferente, em que realmente estas tecnologias estão acessíveis, mas no livro, as crianças conseguiam safar-se dos problemas sem isso.
Acho que é de preservar estas memórias de como era a nossa infância, afinal antes, combinava-se às tantas horas no lugar X e ai de quem se atrasa-se sob pena de já não ir! Afinal não havia como contactar a dizer que se estava atrasado!

Relativamente à Blyton, realmente ela afasta os adultos, mas no fundo é isso que as crianças fazem, tentam afastar-se dos adultos e explorar por si mesmas os locais. Claro está que hoje como pais/adultos sabemos que temos de ter o rebanho controlado e saber que eles estão em segurança.
No entanto acho que não nos podemos esquecer, que na realidade em que Blyton vivia, as crianças aos 12 anos começavam a trabalhar, isto em familias pobres. E as raparigas já cozinhavam e eram auto-suficentes, muitas casavam-se aos 14!
Portanto, apesar de ser uma acção recorrente na sua literatura, acho que as coisas têm um fundamento.
Criticar a Blyton, hoje, em relação às aventuras que escreveu, torna-se muito dificil, pois é sempre impossível de nos lembrar-mos de como era tudo naquela época.
No fundo ela mostrou uma coisa que antes havia muito, era o espirito de equipa, pois as pessoas tinham um vasta fratria de irmãos, e consequentemente primos da mesma idade, e uns olhavam pelos outros. Todos mais tarde ou mais cedo tinham a sua aventura.
Quem certamente de nós, não se lembra, dos nossos pais ou avós contarem histórias de arrepiar de aventuras que tiveram na sua infância, como o terem de guardar gado e perderem um animal e por vezes irem-no socorrer em condições de perigo extremo? Era a realidade interior, que nós tinhamos, e estou a falar precisamente, das infâncias dos anos 60, mais coisa menos coisa, época em que Blyton escreveu os seus livros.
Ela limitou-se a dar a conhecer as possibilidades de familas mais abastadas, em que podiam mandar os seus filhos todos, para colégios, e que nas férias eles não tinham de ter estas actividades, mesmo estando numa vertente mais rural. Podiam simplesmente ocupar os seus dias, com actividades mais leves, como irem para a praia etc. No fundo ela antecipou o que as crianças fazem hoje, ou que pelo menos eu fiz na minha inicial juventude. Eu ia para a praia em colónias, e posteriormente em grupos de amigos, toca de nos metermos no combóio e lá iamos nós. Era uma aventura, nunca sabiamos se correria tudo bem, e não tinhamos telemóveis, para dizer se tinha acontecido alguma coisa! Quem de nós, não tentou enfiar-se por uma gruta, quando as achava? Mesmo hoje em grandes, temos esse esse espirito curioso, que no entanto sabemos controlar.
É claro que as coisas eram mais arcaicas, mas resultavam, e faziam trabalhar o imaginário de qualquer criança, mais que não fosse aquelas que nunca tinham visto o mar, poderem saber que ele existia etc...
Acho que muito mais poderia dizer-se para justificar, as artimanhas de Blyton... inumeras de que me estou a lembrar, como as familas eram grandes, quando um tinha uma doença, regra geral os outros iam de enfiada, etc...
Acho que o que importa mesmo, é que a escritora, conseguiu e ainda consegue fascinar-nos com as suas ideias, ao lermos uma obra sua pela 1ª vez.

Outra coisa de que me lembrei, temos o exemplo do McGywer, não sei como se escreve, a 1ª vez que a série deu! Epá que fenómeno, o homem era incrivel, conseguia fazer tudo, aproveitar tudo etc... quando viamos a série pela 2a e 3a vez... (também já tinhamos crescido) a opinião já era ...ah, mas ele tem sempre ali tudo à mão? qual era a probabilidade de haver aquele uitensilio ali?...

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades... como alguém disse e muito bem!

Para concluir, acho que o que está feito, deve permanecer fiel às suas origens, pois documenta uma época, em todo o seu explendor. Serve para mais tarde recordar e dar a conhecer a quem nunca presenciou, a magia dos tempos.
Devem surgir surgir novas ideias, e serem apoiadas com o devido mérito, em vez de se ignorar boas ideias, e tentar subverter a magia de outras, pois por muito que se actualize nunca irá ficar bem! Ir-se-á sempre estar a criar incongruências nas histórias!
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Alguem



Joined: 11 Apr 2006
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PostPosted: Fri Nov 24, 2006 7:48 pm    Post subject: Reply with quote

Dá cá mais cinco, Moranguita Very Happy

Mais uma adesão à PCPCML Wink - Plataforma Contra o Politicamente Correcto na Modificação de Livros Laughing

Juntos Venceremos! Laughing
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hecep



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PostPosted: Fri Nov 24, 2006 10:23 pm    Post subject: Reply with quote

Alguém wrote:


Mais uma adesão à PCPCML Wink - Plataforma Contra o Politicamente Correcto na Modificação de Livros Laughing
:


Em poucas palavras: também adiro!
A propósito já alguma vez leram uns livrinhos chamados "contos de fadas politicamente correctos"? São de partir o coco a rir.
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Strawberryzinha



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Posts: 1394
Location: Carnaxide

PostPosted: Sat Nov 25, 2006 2:08 am    Post subject: Reply with quote

Até se pode chamar de censura, aquilo que fazem, chiça, parece que querem meter os miudos em redomas de vidro! Esconder-lhes a realidade e dificuldades que haviam!
Não podem brincar na terra, porque ela practicamente já não existe e sujam as roupas todas xpto, e porque tem microbios blá blá
Não podem andar de biciclete, porque caem e se magoam (eu sou rapariga e tenho os joelhos cheios de marcas das quedas... e um dedo... vejam lá se me queixo!)
Não podem ir para ali ou para acolá porque são raptados...
Mete-me confusão!
Depois ainda se queixam que os putos estão cada vez mais obesos... pudera.. os pais não têm tempo nem paciência pra aturar os putos, os miudos não podem sair de casa, e depois em vez de um bom livro, dão-lhes para as mãos apenas PSP, etc...
Só vos digo isto... nós só estamos a atrofiar o cérebro dos miudos em vez de os ajudar-mos a crescer! Estamos a criar pessoas egoistas etc... Não sabem partilhar, não sabem brincar não têm imaginação, já lhes dão a papa feita!
Olhem as máquinas de calcular... antes os nossos pais sabiam os rios, as linhas férreas etc... de cor! de cor! onde começavam, onde acabavam etc... Até podiam ser atacdos por Alzheimer, mas isso não esqueciam!! Os putos hoje, nem as tabuadas sabem! Salvo raras excepções!
Não sabem pensar por si nem desenvencilhar-se...
Mas pronto perdoem o desabafo!
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green man



Joined: 19 Aug 2006
Posts: 117
Location: Benfica (Lisboa)

PostPosted: Sun Nov 26, 2006 9:28 pm    Post subject: Reply with quote

Sou também completamente contra as 'modernizações' de histórias antigas.
Existem tantas histórias modernas que não vejo o poquê de alterar histórias escritas há mais tempo.
Essas histórias fazem parte da História - São História!
Acho que é um atentado aos direitos de autor, uma profanação das palavras escritas pelo escritor.

Também me irritam as crianças que vivem numa 'redoma' imposta pelos pais.

E também me irritam as teorias pseudo-criticas de adultos ao conteúdo de histórias para crianças! Acho que é um grande mérito da escritora ter a capacidade de descer à idade das crianças e escrever como se fosse uma delas. Não sou dos que consideram a literatura infanto-juvenil uma literatura menor. Acho que livros bons e com histórias interessantes para crianças são muito difíceis de escrever e o mérito da Enid Blyton está mais do que comprovado.
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Alguem



Joined: 11 Apr 2006
Posts: 2137
Location: Porto

PostPosted: Tue Nov 28, 2006 10:05 pm    Post subject: Reply with quote

Green Man, uma das provas de que os livros foram aceites, e de que realmente se deve desvalorizar as tais "pseudo-críticas" por parte de adultos, é o número incontornável de edições em todo o mundo, com ávidos seguidores de países e culturas diversos. Não é assim de espantar o volume incrível de correspondência que ela recebia, proveniente dos quatro cantos do Mundo, a que ela fazia questão de responder pessoalmente, como o Mistério sublinhou recentemente.

Mais, é de louvar o esforço da EB na sua tenaz insistência em escrever livros infantis e juvenis numa época difícil para a Europa, instilando outra vez noções de dignidade, entreajuda, confiança, coragem, esperança, lealdade, etc., em crianças que cresceram desconfiadas e apavoradas.

De que outra forma a maior parte dos seus leitores dos anos 40/50 entraria em contacto com os países mediterrânicos ("Aventura no Barco"), com o Médio Oriente ("Aventura no Rio"), com a vida nos elitistas colégios internos ingleses, ou com os variados aspectos (embora muito ficcionados) da vida num circo?

Como diria o poeta, "eles não sabem que o sonho........"
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Staci Vaughn
Guest





PostPosted: Wed Nov 29, 2006 10:11 pm    Post subject: Reply with quote

Embora concorde com o que foi referido de positivo sobre a EB (doutro modo não estaria a escrever aqui) adoptar uma politica do 'she-can-do-nothing-wrong' parece-me claramente redutor.
A autora não está isenta de erros e refugiar-nos na repetitiva 'teoria' dos 12 anos não me parece grande solução.
A publicação actual de livros para crianças é constantemente sujeita a críticas feitas por adultos e nunca vi ninguém a defender que os textos devessem ser redigidos exclusivamente por crianças.
Por falar em 12 anos, lembro-me perfeitamente que por essa altura, quando lia os livros dos Cinco, uma coisa que me desapontava era descobrir os mauzões logo no início do livro, bastava que a autora descrevesse o primeiro mal-encarado da história. (E esta não é uma crítica de um adulto).

Mais interessante será contudo discutir porque é que as crianças portuguesas de hoje, optam por ler livros derivados da EB (tipo colecção Uma Aventura...) em vez dos originais.
Qual é a vossa opinião sobre isto.
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