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A Culpa (1981) - Antonio Victorino d'Almeida

 
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rui sousa



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PostPosted: Fri Jul 04, 2014 12:14 am    Post subject: A Culpa (1981) - Antonio Victorino d'Almeida Reply with quote

A Culpa (1981) - António Victorino d'Almeida



Quote:
O maestro, compositor e pianista António Victorino d’Almeida é também uma das figuras mais mediáticas da televisão portuguesa, tendo apresentado e conduzido diversos programas que se dedicaram à divulgação da cultura e, mais propriamente, da música erudita, em “aulas” que se tornaram num marco para gerações de espectadores. Mas o talento de Victorino d’Almeida espalha-se também noutras vertentes: escreve romances (o mais popular é o primeiro, Coca-Cola Killer) e ainda deu um saltinho para o Cinema, realizando o seu próprio filme: A Culpa, uma das sátiras mais divertidas do Cinema Português – mas infelizmente, uma das menos vistas e divulgadas (nunca houve uma edição para home video, e raramente foi exibida na televisão), apesar de ter sido uma fita premiada (recebeu grandes elogios no Festival Iberoamericano do cinema de Huelva e ainda passou pela Berlinale).

A história é também da sua autoria, tal como a lindíssima e complexa banda sonora que acompanha cada uma das pequenas situações que são contadas nesta comédia bizarra e totalmente surreal. Tem também um toque de tragédia, e mesmo de terror (algo que possa parecer, à partida, despropositado para o resto da narrativa, mas tem a sua simbologia). Mas o propósito do realizador, com o seu humor afiado, obsceno, irreverente e anárquico, é dar uma visão crítica e humorística alargada sobre o espírito de Portugal e dos portugueses no ano anterior à Revolução dos Cravos.

Mas não é tanto um retrato político como é um retrato social, grotesco, incongruente, mas hilariante, sobre a condição de se ser português. Victorino d’Almeida critica vários tipos de “portugalite” (a “doença” característica do nosso povo, revelada por Miguel Esteves Cardoso numa das mais conhecidas crónicas de A Causa das Coisas), juntando um elenco soberbo de atores que se cruzam entre vários géneros cinematográficos e várias sátiras distintas, mas igualmente inteligentes e cativantes. Alguns diálogos estão mais bem conseguidos do que outros, é certo, mas não há dúvida que qualquer uma das pequenas vinhetas contadas – que acabam por formar um mosaico muito bem construído e detalhado – possui elementos que provocarão pequenas e grandes gargalhadas nos espectadores.

Mas lá está, A Culpa não é “só” comédia: as histórias e personagens cruzam-se numa série de peripécias que refletem os problemas de uma nação e de uma forma de estar em sociedade, que acaba por ser tão atual em ditadura como em democracia. O lado cómico acaba por assumir uma dupla face: a de se tratar, também, de uma profunda e muito negra retrospetiva ao que de mais comum e, também, invulgar, há nos portugueses.

Quando o filme acaba, sentimos o peso dos risos e dos sorrisos, mas também do murro no estômago que nos deixa o desfecho da colisão de histórias, opiniões, personalidades e estratos sociais. Em vários pontos da trama se discute, afinal, quem é que é o culpado de uma determinada situação. A conclusão a que chegamos é a de que, lá no fundo, e mesmo havendo responsáveis por cada crime (mais ou menos violento) que ocorre na pátria… ninguém quer ficar com as culpas de nada. E isto não deixa de ser preocupante, e dramático – é uma atitude que prevalece e que continua a ser o pão nosso de cada dia.

Genial e brilhante, mesmo que seja por vezes incongruente e despropositado, A Culpa é outra daquelas pérolas escondidas do Cinema português, e um filme que continua a estar ligada à nossa forma de ser e estar no mundo, para o bem e para o mal. António Victorino d’Almeida é um realizador cuidado, atento ao pormenor e ao timing necessário para cada piada e reflexão resultar, da melhor maneira, na linguagem cinematográfica. Começou aqui a sua carreira na direção cinematográfica, e infelizmente, nunca mais voltou a exercê-la até hoje.


Número da rubrica «Hollywood, tens cá disto?», no Espalha Factos: http://www.espalhafactos.com/2014/06/24/hollywood-tens-ca-disto-a-culpa-1981/
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