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O Fim do Outono (Akibiyori) - Yasujiro Ozu [1960]

 
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rui sousa



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PostPosted: Thu Jul 24, 2014 7:22 pm    Post subject: O Fim do Outono (Akibiyori) - Yasujiro Ozu [1960] Reply with quote

O Fim do Outono (Akibiyori) - Yasujiro Ozu [1960]



Quote:
O Fim do Outono: a mudança das gerações e a passagem de testemunho

O último dos três filmes do realizador Yasujiro Ozu que chegam esta semana ao Espaço Nimas, em cópias digitais restauradas, é mais uma belíssima reflexão do papel das relações humanas nas mudanças e costumes da sociedade japonesa. Um clássico do cinema oriental que os espectadores portugueses podem agora ver ou rever no grande ecrã.

O filme começa com o funeral de Miwa, e nele, os seus três melhores amigos começam a preocupar-se com o futuro da viúva, Akiko (Setsuko Hara), e da sua filha, Ayako (Yôko Tsukasa), que tem 24 anos e que continua solteira. Todos concordam que a melhor solução para ambas as mulheres é que a jovem se case rapidamente. Contudo, o processo de matrimónio não será fácil: Ayako rejeita as várias propostas que os três homens lhe apresentam, e mesmo que a mãe insista também no assunto, mostra que não tem a intenção de casar naquela altura. Mas os sentimentos podem mudar, e outros planos podem ser congeminados para salvar a situação…

O Fim do Outono é a história do início de um ciclo social e da tentativa de tentar renovar outro. Trata-se de uma renovação da história de Primavera Tardia, filme que Ozu assinara no final da década de 40, e que curiosamente, contava também com Setsuko Hara (e com outros atores regulares das fitas do cineasta) no outro papel: o da filha solteira, que nesse caso específico, vive com o pai viúvo, que a tenta casar a todo o custo, enquanto ela prefere ficar solteira para cuidar do seu progenitor. 11 anos separam a estreia das duas obras, e entre ambas verificamos como todo o sistema ético da cultura japonesa não se alterou muito – apenas em pequenas coisas para conseguir acompanhar tudo aquilo que a modernidade trouxe de novo.

Tal como nos dois filmes anteriores do realizador que estão igualmente em reposição no Nimas, assistimos aos efeitos da passagem do tempo na mudança de papéis que o nascimento das novas gerações provoca nas comunidades humanas – mas não nos esqueçamos que, apesar dos “novos”, os “velhos” não podem ser desprezados, nem renegados ao esquecimento. A mãe quer que a filha siga o mesmo caminho de felicidade que ela, partindo pelos mesmos preceitos e códigos que estão completamente impostos na cultura. Mas a filha não deseja, para a mãe, um final solitário que a sua ausência poderá causar. É um duelo entre obrigações cívicas e a consciência das personagens que põe todas estas vidas em jogo, neste singelo drama familiar.

Se Ozu se centrou na renovação do Japão nos seus últimos filmes, não se esqueceu nunca da melancolia do envelhecimento, e de tudo aquilo que escapa ao rígido sistema de conduta dos habitantes do país. As emoções, as armadilhas da morte e do crescimento dos filhos, e da ideia feita que, infelizmente, nunca deixou nem deixará de ser verdade: que nada dura para sempre. Mas os mais velhos necessitam de continuar com a sua dignidade, aproveitando a sua experiência de vida para ensinar os mais novos, os que tomarão o lugar que eles, agora, estão prestes a abandonar. E apesar das amarguras persistem as amizades e a ânsia de ver os outros a fazerem o seu percurso, e a descobrirem por si próprios as características da existência humana que, por mais que sejam repetidas por todas as gerações, parecem sempre ser novas, surpreendentes, frágeis e igualmente admiráveis.

E quão admirável é O Fim do Outono e as emoções que transmite, através de uma calma e serenidade que parecem estar quase extintas, na atualidade, do Cinema contemporâneo. Ozu procurou sempre a simplicidade para filmar histórias estritamente ligadas ao Japão, mas cujo lado humano passa por qualquer país e por todas as línguas, e todas as épocas. Porque o filme já tem mais de 50 anos, e permanece uma peça única de Cinema, e uma abordagem que não perdeu a sua delicadeza e os sentimentos comoventes que suscita no espectador, que mergulha numa cultura completamente diferente da sua, mas que toma estas personagens como suas vizinhas, como testemunhas da vida quotidiana à qual tem de sobreviver diariamente.

E a beleza das imagens, do enquadramento dos planos, da banda sonora, das interpretações, dos diálogos, retiram-nos todas as outras palavras que poderíamos utilizar para descrever muitas das mensagens e simbologias que poderiam ser apreciadas, por escrito, sobre O Fim do Outono. Um filme que, tal como A Flor do Equinócio e Bom Dia, se torna urgente descobrir, ou voltar a contemplar – mas desta vez, nas condições apropriadas de uma sala de cinema.

9/10


In http://www.espalhafactos.com/2014/07/24/o-fim-do-outono-a-mudanca-das-geracoes-e-a-passagem-de-testemunho/
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